Escolhas estruturais
O levantamento a seguir foi realizado por Luiza Gianesella, mediadora da 33ª Bienal de São Paulo. Pensado inicialmente como um material de apoio à mediação, acabou se tornando também uma reflexão a respeito do alcance e das consequências da curadoria descentralizada dessa edição.
Devido à dificuldade de encontrar fontes onde os artistas se autodeterminassem quanto a gênero e raça, o único critério utilizado foi o da percepção da autora, que está ciente em relação à limitação do método.
A autora agradece a colaboração de seus colegas, em especial Daiana Ferreira de Lima e Tailicie Paloma, pela ajuda na tabulação dos dados, e à equipe do Programa Educativo pela indicação do texto de Jo Freeman. Os dados que dão origem aos gráficos podem ser consultados em http://bit.do/historiada33. Correções e quaisquer outras questões podem ser enviadas para luiza.gianesella@gmail.com
“Isso significa que lutar por um grupo ‘sem estrutura’ é tão útil e tão ilusório quanto almejar uma reportagem ‘objetiva’, uma ciência social ‘desprovida de valores’ ou uma economia ‘livre’. Um grupo de ‘laissez-faire’ é quase tão realista quanto uma sociedade de ‘laissez-faire’; a idéia se torna uma dissimulação para que o forte ou o afortunado estabeleça uma hegemonia inquestionada sobre os outros.”
“As elites não são conspirações. Dificilmente um pequeno grupo de pessoas se reúne e tenta tomar o grupo maior para seus próprios fins. As elites são, nada mais, nada menos, que um grupo de amigos que coincidem em participar das mesmas atividades políticas. Eles provavelmente manteriam sua amizade, participassem ou não dessas atividades políticas; e participariam das atividades, mantivessem ou não sua amizade. É a coincidência destes dois fenômenos que cria elites em qualquer grupo e as torna tão difíceis de serem destruídas.”
“Todos os grupos criam estruturas informais como resultado dos padrões de interação entre os membros. Essas estruturas informais podem fazer coisas úteis. Mas apenas grupos inestruturados são totalmente governados por elas. Quando elites informais estão juntas com o mito da ‘ausência de estrutura’, não há meios de pôr limites ao uso de poder. Ele se torna caprichoso.”
“Enquanto os grupos de amizade forem o principal meio de atividade organizacional, o elitismo se torna institucionalizado.”
“Para que todas as pessoas tenham a oportunidade de se envolver num dado grupo e participar de suas atividades, é preciso que a estrutura seja explícita e não implícita. As regras de deliberação devem ser abertas e disponíveis a todos e isso só pode acontecer se elas forem formalizadas. Isto não significa que a normalização de uma estrutura de grupo irá destruir a estrutura informal. Ela normalmente não destrói. Mas impede a estrutura informal de ter o controle predominante e torna disponível alguns meios de atacá-la.”
Trechos do texto A Tirania das Organizações Sem Estrutura (1970), de Jo Freeman, parte da bibliografia principal indicada aos mediadores durante o processo de formação com vistas à atuação na 33ª Bienal de São Paulo. O texto na íntegra pode ser consultado em http://bit.do/jofreeman.